quarta-feira, 4 de maio de 2011

mais gentílicos curiosos

Gaúcho ou rio-grandense-do-sul (Rio Grande do Sul)
Gaúcho é uma denominação dada a pessoas ligadas à atividade pecuária na região do Vale do Rio da Prata (Argentina e Uruguai), descendentes de uma mistura de europeus, índios e africanos. Designava pessoas de hábitos nômades, brancos pobres, escravos fugidos ou índios aculturados sem terra. Foi usada pejorativamente para designar os habitantes do Rio Grande do Sul na época do Império durante a Guerra Farroupilha, com o objetivo de menosprezá-los, mas depois, na República, foi adotada por eles, com orgulho.
Potiguar ou norte-rio-grandense (Rio Grande do Norte)
Potiguar era o nome de uma nação tupi que habitava a região litorânea na qual hoje se localiza o estado. Em tupi, quer dizer “comedor de camarão”. Não por coincidência, o estado é o maior exportador brasileiro de crustáceo.
Capixaba ou espírito-santense (Espírito Santo)
Capixaba também tem origem tupi e significa “lugar para se plantar” ou “terra de plantação”. Eram chamadas assim as plantações (especialmente de milho, abundantes na região.
Barriga-verde ou catarinense (Santa Catarina)
Havia em Santa Catarina um regimento militar, com base em Florianópolis, cuja farda incluía uma larga faixa verde, que cobria a barriga. Eram chamados, por isso, de barriga-verde. Seu grupo de soldados se destacou na guerra da Cisplatina (1825-1828, do Brasil contra as Províncias Unidas do Rio da Prata) e tornou-se lendário, passando a expressão então a identificar todos os provenientes daquele estado. Hoje, a expressão é bastante comum.
Canela-verde ou vila-velhense (Vila Velha, capital do Espírito Santo)
A expressão “canela-verde” data do início da colonização do estado. Segundo se conta, era como os índios se referiam aos colonizadores portugueses, que ao desembarcar de seus navios manchavam suas canelas e a barra de suas calças de verde, devido à grande quantidade de algas marinhas que havia na costa capixaba.
Paulista (estado de São Paulo)
O sufixo ISTA soa um pouco estranho na formação de gentílicos e é muito pouco comum. Existem pouco mais de 20 ocorrências no dicionário. Podemos vê-lo em paulista, santista (Santos-SP), são-bentista (São Bento Abade-MG), são-felista (São Félix-BA), tupi-paulista (Tupi Paulista-SP), união-paulista (União Paulista-SP), roseirista (Roseira-SP), malauista (Malauí – África), asa-nortista e asa-sulista (dos bairros Asa Norte e Asa Sul, em Brasília), abre-campista (Abre Campo-MG), américo-campista (Américo de Campos-SP), cabista (Arraial do Cabo-RJ), campista (Campos de Goytacazes-RJ), lajista (Lajes-BA), além de nortista e sulista, referentes, respectivamente, aos habitantes da região Norte e Sul do Brasil.
Paulistano (cidade de São Paulo)
Ao contrário de ISTA, o sufixo ANO é um dos mais comuns. São milhares de exemplos. Além de paulistano, temos baiano, mexicano, americano, africano, angolano, moçambicano, peruano, cabo-verdiano, boliviano, equatoriano, colombiano, venezuelano, italiano, cubano, romano, iraquiano, napolitano, texano, alagoano, acriano, itaparicano, goiano, cuiabano, paraibano, curitibano, pernambucano, sergipano etc.

tocanti... o quê?

Se você procurar no dicionário, vai encontrar esses três gentílicos (ou seja, adjetivos que se derivam de nomes de cidades, estados, países, continentes, etc.): tocantinense, tocantiniense e tocantinopolitano.
Pra começar, quem nasce no estado do Tocantins é tocantinense, a primeira palavrinha aí que eu citei, de acordo com o post anterior. Tudo o que for relativo a Tocantins é tocantinense.
O que seria então tocantiniense? Tocantiniense se relaciona a Tocantínia, município do estado de Goiás. O mesmo acontece com tocantinopolitano, que é relativo a Tocantinópolis, outro município de Goiás.
Esse “politano” que forma o derivado de Tocantinópolis é por causa desse “polis” aí, que vem do grego e significa “cidade”. O mesmo acontece com soteropolitano, que se refere à cidade de Salvador, que é um caso à parte.
Salvador não termina em “polis”, você deve estar querendo argumentar. É, não termina. Mas “soter”, em latim, significa “salvador” e “polis”, como vimos, “cidade” em grego. “Soterópolis” seria, então, “cidade de Salvador”. Por isso o soteropolitano. (Assim como de Petrópolis vem petropolitano, de Florianópolis vem florianopolitano, de Anápolis vem anapolitano.)
Os dicionários também aceitam a formação “salvadorense”, mas seu uso não é comum. Mesmo porque há uma cidade chamada Salvador do Sul – no Rio Grande do Sul –, e seus habitantes são salvadorenses. Salvadorenho, como sabemos, é relativo a El Salvador, país lá da América do Norte.
Alguns lugares, como Salvador, adotam mesmo um gentílico mais erudito. É o caso de “fluminense”, relativo ao estado do Rio de Janeiro. Vem de “flumen” (rio em latim). Já a cidade do Rio de Janeiro tem como gentílico “carioca”, que, segundo dizem, vem da denominação dos índios tamoios para o lugar: “akari oca” (ou “casa de cascudo”).
A cidade mineira de Três Corações tem o seu: tricordiano, formado por “tri” (três em latim) e “cordis” (coração em latim). São Luís, capital do Maranhão, tem dois: o comum, são-luisense, e o grã-fino, ludovicense (de “Ludovicus”, que deu origem ao nome Luís). Manaus, capital do Amazonas, também tem dois: manauense e manauara (“wara”, em tupi, é “o que veio de”, “nascido em”).

terça-feira, 3 de maio de 2011

acreano ou acriano?

Outra mudança na nova ortografia é que os sufixos IANO e IENSE passam a manter o I nos substantivos e adjetivos derivados, mesmo que suas formas primitivas possuam E. Isso quer dizer que quem nasce no Acre é agora acriano, e não mais acreano. Embora tenha gerado reivindicações em todo o Acre e alguns jornais locais tenham se negado a adotar a novidade, é o que a lei manda, o que podemos fazer?
Do mesmo modo, de Açores vem açoriano; de Camões vem camoniano; de Shakespeare vem shakespeariano; de Torres vem torriense; de Saussure vem saussuriano; de Euclides da Cunha vem euclidiano; de Borges vem borgiano; de Nelson Rodrigues vem rodriguiano; de Wagner vem wagneriano.
E os exemplos seguem: cingapuriano, freudiano, byroniano, chapliniano, rosiano (de Guimarães Rosa), zairiense (do Zaire), equatoriano, quebequiense (de Quebec), mülleriano (de Müller), machadiano (de Machado de Assis), bilaquiano (de Bilac), lacaniano (de Lacan), argeliano.
Exceção: A exceção à regra se dá quando a forma primitiva tiver vogal tônica aberta (que são aquelas com acento agudo ou pronunciadas como se o tivessem). Nesse caso, o E permanece no derivado (EANO ou EENSE), como em Coreia (coreano), Montevidéu (montevideano), Daomé (daomeano), Guiné (guineense ou guineano), Macapá (macapaense), Manaus (manauense), Maceió (maceioense), Igapó (igapoense), Feijó (feijoense), Abaeté (abaeteense), Iguaçu (iguaçuense), sucuri (sucuriense), Piauí (piauiense), Camburi (camburiense), Tocantins (tocantinense).

mais sobre o hífen

Outra regrinha que continua em vigor é o hífen obrigatório em palavras compostas que indicam origem, como belo-horizontino, norte-rio-grandense, porto-alegrense, ouro-pretense, cabo-verdense, são-bernardense, são-pedrense-do-sul, sul-africano, sul-coreano, mato-grossense, serra-negrense, porto-riquenho.

o casamento de hífen e apóstrofo

A nova regra ortográfica diz o seguinte: “Usa-se o hífen nos compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo”. Isso quer dizer que, quando houver apóstrofo (‘) entre palavra composta (ou seja, duas ou mais palavras que juntas querem dizer uma coisa só), você vai ter que colocar hífen entre elas.
Exemplos: copo-d’água, mãe-d’água, pé-d’água, mestre-d’armas, gota-d’água, caixa-d’água, estrela-d’alva, pau-d’alho, olho-d’água, pau-d’arco, queda-d’água, caixa-d’óculos, pai-d’égua, pau-d’arara etc.