quinta-feira, 24 de março de 2011

os travestis da língua

O mundo dos substantivos é como esse mundo em que a gente vive: tá cheio de coisas que a gente acha que são, mas não são. Muito masculino que a gente jura que é feminino e vice-versa. Pode parecer estranho no começo, mas o costume faz a estranheza e o preconceito desaparecerem.
Um dos mais famosos travestis é “dó”, masculino no RG, mas que tem cara de mulher. O substantivo “amálgama”, por exemplo, também parece feminino, mas nããão. É “o” amálgama, assim como “o” dó. Cônjuge, algoz, gênio, carrasco, anjo, gigante, herpes, champanhe (ou champanha), pé-frio, pivô, vernissage, é tudo travesti mesmo. Do gênero masculino. Então não dá pra dizer “a carrasca”, “a anja”, “a gênia”, “a gigante”, e por aí vai.
Isso sem falar em “cataclismo” (que, entre outras coisas, quer dizer desastre, terremoto), que também é masculino e vive sendo chamado de “cataclisma” por aí. Do mesmo jeito como em “somatório”, que é chamado sempre de “somatória” (a maioria dos dicionários só registra mesmo “somatório”, pode conferir). O trema foi abolido na nossa língua, mas continua sendo ele, masculino mesmo, como “milhar” – portanto, nada de “a trema” e “as milhares”.

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